A rota que vai de Portugal a Santiago pelo litoral galego é um percurso cheio
de lendas, ilhas, castros e paraísos naturais
22 oct 2021 . Actualizado a las 15:48 h.
O Caminho Português da Costa foi alvo de várias polémicas. Mas, tenha ele ou não raiz histórica, o que é claro é que a rota vale a pena. Agora que o tempo ainda o permite, optar por este itinerário permite desfrutar de boa parte do litoral galego.
E se o Caminho vale a pena, os desvios e paragens também não ficam atrás. As oito etapas desta rota atravessam terras cheias de lendas e história. De zonas marinheiras até à localidade onde foram encontrados os restos do Apóstolo, passando por verdadeiros paraísos naturais. Um percurso que permite visitar ilhas, castros, antigos fortes e até algum ou outro local onde poder fazer uma pausa. Estes são os oito locais pelos quais vale a pena desviar-se do Caminho Português da Costa.
Castro de Santa Trega, em A Guarda
A entrada na Galiza desta rota recebe os peregrinos de forma privilegiada. O castro de Santa Trega, situado a 341 metros de altitude, tem o papel de guardião do Caminho. É escusado dizer que as vistas são espetaculares. O oceano Atlântico, o Minho, o norte de Portugal e a costa galega conjugam-se para oferecer uma panorâmica única.
Algo deve ter este lugar de A Guarda para os antigos habitantes dessas terras terem decidido estabelecer-se aí. E não foram poucos. O assentamento chegou a ter 5.000 pessoas na sua época de máximo esplendor, no século I a. C., muito antes dos peregrinos atravessarem o Minho para render culto ao Apóstolo.
Cabo Silleiro, em Baiona
A segunda etapa do Caminho Português da Costa acaba em Baiona. Mas, antes de chegar ao centro da localidade, é preciso contornar o cabo Silleiro. Uma alternativa é continuar a rota colada à costa. Implica fazer mais algum quilómetro, mas vale a pena. Este limite sul das Rías Baixas oferece umas vistas espetaculares da baía de Vigo, com as ilhas Cíes como barreira natural contra o oceano Atlântico. Além disso, as visitas permitem ver tanto o faro moderno como os restos da antiga lanterna que iluminava a chegada dos navegantes.
Monteferro, em Nigrán
Monteferro é uma península situada na paróquia de Panxón, em Nigrán. Apesar da sua dimensão reduzida, aglutina todo o tipo de património natural e cultural. Esta língua de terra está presidida por uma escultura de 25 metros ligada à tradição marinheira. Conhecida como Monumento da Marinha Universal, foi concebida como uma homenagem a todas as pessoas que perderam a vida no oceano, assim como um sinal de boas-vindas aos barcos que se aproximavam da costa. Nesse ponto é possível desfrutar de vistas privilegiadas sobre a ria de Vigo, as ilhas Cíes, as islas Estelas ou a baía de Baiona.
Mas o monumento não é o único bem de interesse que apresenta este cantinho de Nigrán. Dedicar uma pequena escapada a Monteferro permite viajar através dos séculos. Parte do neolítico com os petróglifos de As Penizas, que datam de há 5.000 anos. Faça escala na época do Império Romano através dos restos de um assentamento e das suas canalizações de água. Acabe na segunda guerra mundial com as baterias militares das quais ainda se conservam elementos como vários canhões, um bunker e um depósito de explosivos.
Centro de Vigo
Embora o Caminho Português da Costa atravesse Vigo, a cidade é demasiado grande para captar toda a sua essência seguindo as setas amarelas. Por isso, vale a pena passear pelas ruas do centro para encontrar os diferentes ambientes e estilos que dão vida ao município mais povoado da Galiza.
A contrário da zona costeira, o centro de Vigo deixa para trás o estilo marinheiro para adquirir um aspeto mais neoclássico, similar ao de outras cidades europeias como Madrid. Por alguma razão tem as suas próprias Gran Vía e Puerta del Sol. Além de mostrar o ambiente mais moderno do município, esta zona reúne alguns dos seus principais monumentos, como a estátua do Sereio, a oliveira centenária ou o Dinoseto (sebe em forma de dinossauro).
Ilha de San Simón, em Redondela
A ria de Vigo alberga numerosas ilhas. Algumas brilham pelo seu património natural, como as Cíes. Outras, pela a sua herança cultural. É o caso da lendária ilha de San Simón. Situada ao fundo da ria, além da ponte de Rande, tem um passado rodeado de enigmas e misticismo. Pertence ao município de Redondela e é apenas acessível de barco, tratando-se de um espaço protegido. Mas a visita vale a pena.
A ilha de San Simón esteve habitada noutra época. Foi refúgio de monges beneditinos e local de retiro de cavalheiros templários durante a Idade Média. Atacada pelos piratas comandados por Francis Drake no século XVI. Testemunho da batalha de Rande em 1702, cuja lenda garante que no fundo da ria se encontra o tesouro da Armada. Tornou-se leprosário e centro de quarentena dos viajantes vindos da América durante o século XIX. E o século XX não mudou a sua existência trágica, visto que a ilha se transformou em campo de concentração durante a Guerra Civil e nos primeiros anos da ditadura, para depois vir a ser orfanato.
Cascatas de Barosa, em Barro
O rio Barosa transforma-se ao passar por Barro numa série de piscinas, saltos de água e cascatas de todas as formas e tamanhos. Um verdadeiro parque aquático criado pela natureza. Mas, se algo torna estas poças únicas são os «escorregas» que a água cria ao deslizar-se entre os rochedos. Porque não fazer uma pausa no Caminho para refrescar as pernas? A zona encontra-se numa área recreativa rodeada de moinhos com parque etnográfico incluído.
Torres do Oeste, em Catoira
Embora este município se encontre fora da rota, uma vez aqui, vale a pena desviar-se para chegar a Catoira (e mais se tiver feito essa paragem para se refrescar em Barro). Irá aí encontrar as Torres do Oeste, palco da Romaría Vikinga. Uma festa que rememora o desembarque dos normandos nesta localidade durante a Idade Média.
Mas estas torres são na realidade os restos de um forte que tem muito mais a ver com o Caminho. Protegia a passagem entre a ria de Arousa e o rio Ulla. Um trajeto que os barcos invasores tentavam seguir para chegar a Santiago. E o mesmo percurso que, de acordo com a lenda, fizeram os restos do Apóstolo.
Casa museu de Rosalía de Castro, em Padrón
Antes de começar a última etapa, vale a pena fazer uma paragem cultural em Padrón. A terra onde, segundo a lenda, foi parar o sepulcro do Apóstolo, foi também o último refúgio de Rosalía de Castro. Todo um ícone da Galiza, da sua língua e da sua cultura. Para conhecer mais de perto a vida da autora de Cantares Galegos e Folhas Novas, basta ir até à casa onde morou, agora transformada em museu.