O inverno é temporada de sofá e manta, mas também é um bom momento para visitar os palcos onde foram rodados esses filmes que animam os dias cinzentos
28 mar 2022 . Actualizado a las 20:47 h.Rotina, chuva, quarentenas... Há muitas razões pelas quais se passa mais tempo em casa estas semanas. O inverno é temporada de Netflix (Amazon, HBO ou Disney...) e manta. Mesmo assim, essa vontade de viajar e conhecer os recantos mais belos da região continuam aí. Há dezenas de filmes rodados na Galiza que permitem ver a região instalado no sofá. Mas, se preferir, pode vestir o casaco, dar o salto do ecrã para a rua e visitar algum destes dez destinos de filme.
De esmorga por Ourense
Que o Carnaval tenha passado não significa que a festa pare. Pelo menos, para as personagens de A Esmorga, um filme baseado numa novela homónima de Eduardo Blanco Amor. Ao longo das cenas, podem se ver os atores Miguel de Lira, Karra Elejalde e Antonio Durán, Morris, viver as aventuras e desventuras de uma noite de farra pelas ruas de Ourense. Sobe o nome de Auria, a cidade termal é o local onde se desenvolve a ação e onde foi maioritariamente rodado o filme.
O livro e o filme chegaram a ter tanta fama que até têm uma rota que percorre os locais da rodagem. Jardins como o de O Possío, parques como a Alameda, praças como a de O Correxidor, edifícios como a catedral ou locais emblemáticos como As Burgas são alguns dos pontos de Ourense que se podem ver no ecrã.
Mas a capital não é a única localidade de Ourense que aparece no filme. Ribadavia, O Carballiño e Pazos de Arenteiro, em Boborás, também formaram parte da lista de localizações. Na província de Lugo, escolheram-se sítios como o paço de Tor, em Monforte de Lemos, onde foram rodadas cenas de interior e exterior, Ferreira de Pantón, Escairón e O Saviñao.
Rota pela província de Ourense com Cuñados
Na realidade, Ourense poderia ser considerada o palco da Galiza. Numerosos filmes, séries, documentais e até videoclips encontraram o seu cenário nas ruas e arredores dos seus municípios. Um dos últimos em se juntar à longa lista de títulos rodados na província foi Cuñados. Esta comédia estreada em 2021 está ambientada no mundo das adegas de vinho. E que melhor sítio para o mostrar do que as paisagens das comarcas de O Ribeiro? Allariz, San Cibrao das Viñas e a própria capital foram também algumas das localizações por onde passaram os atores Xosé A. Touriñán, Miguel de Lira e Fede Pérez, entre outros.
Celanova com Elisa y Marcela
Também a premiada realizadora Isabel Coixet encontrou na província interior da Galiza o local ideal para rodar Elisa y Marcela. Uma produção da Netflix que conta a história do primeiro casamento entre duas mulheres que aconteceu em Espanha. Foi na Corunha em 1901 e, para se poderem casar, uma delas teve de ser fazer passar por homem. Um relato sobre o amor e a luta pelos direitos LGTBI que encontrou em Ourense o seu cenário perfeito.
Embora a maior parte da história entre Elisa e Marcela tenha acontecido na Corunha, a maioria das localizações galegas da rodagem foram encontradas em Ourense. Por exemplo, a escola das professoras onde as protagonistas se apaixonam é na realidade o mosteiro de São Salvador, uma das joias patrimoniais de Celanova. Outros pontos da província que aparecem no ecrã são Paços de Arenteiro e Moldes, em Boborás.
Em qualquer dos casos, se depois de ter percorrido a rota dos cenários do filme ainda tiver vontade de percorrer os locais onde teve lugar a história real, existe um tour guiado pela cidade da Corunha. A igreja de São Jorge, onde se casaram, ou a rua San Andrés, onde se situava a pensão Corcubión na qual passaram a noite de núpcias, são algumas das paragens.
Allariz em La lengua de las mariposas (A língua das borboletas)
Se houve um realizador apaixonado por Ourense este foi José Luis Cuerda. Apesar de ser natural da Mancha, o cineasta sentia-se muito ligado à Galiza, especialmente à província interior. Fruto disso, a região funcionou como cenário para mais de um filme. É o caso de La lengua de las mariposas, Los girasoles ciegos e Todo es silencio.
A primeira grande aposta do realizador pela comunidade galega foi em 1998, quando se rodou La lengua de las mariposas. Um filme baseado no relato Que me queres, amor? de Manuel Rivas. O filme retrata o fim da Guerra Civil e o princípio da ditadura através dos olhos de uma criança de uma aldeia galega, que vê como o seu professor é alvo das represálias do regime.
As ruas do centro histórico de Allariz serviram para recriar essa Galiza rural de 1936. Mas não ficou tudo nesta vila termal. Parte das sequências foram gravadas noutros pontos da província de Ourense e na cidade de Pontevedra. De facto, a última cena situa-se na praça da Leña e na rua Figueroa.
O Ares de Almodóvar
Outro dos grandes nomes do ecrã que escolheram a região como palco é Pedro Almodóvar. O realizador gravou parte das cenas de Julieta nos municípios de Ares e Mugardos. O filme conta o relato de uma mulher que, após ter notícias da sua filha, que já não vê há anos, decide escrever-lhe a sua história, desde o dia em que conheceu o pai. Esse ponto de partida leva a ação à Galiza marinheira dos anos oitenta, em que ele trabalha como pescador. Para criar essa ambientação, o manchego escolheu várias localizações das Rias Altas.
O cais de Mugardos ou a Puerta del Sol de Ares foram alguns dos pontos escolhidos por Almodóvar. Mas se há um local que se destaca é a paróquia de Redes. A sua praça de O Pedregal, as suas ruas estreitas e os seus edifícios indianos encantaram o realizador. E, de facto, algo dever ter este lugar de casas coloridas contra as quais bate a ria de Ares, visto que a presença de câmaras e focos se tem tornado algo quase quotidiano.
Mar adentro em Muros e Noia, e Arousa
Falando de sítios que se tronam palco uma e outra vez, é de referir a praia de As Furnas. Situada nas rias de Muros e Noia, e Arousa, é um dos cenários chave de Mar Adentro, o filme que catapultou Alejandro Amenábar para ganhar um Óscar, um Globo de Ouro e 14 Goyas. O realizador quis plasmar a história de Ramón Sampedro, a primeira pessoa em pedir a eutanásia em Espanha, nos locais onde aconteceram os factos reais. E foi nas falésias do areal de Porto do Son onde o protagonista sofreu o acidente que o deixou tetraplégico.
Ramón Sampedro é natural de Xuño, uma paróquia de Porto do Son, onde se rodou parte das cenas. As aldeias de Abelendo e O Castelo serviram, de facto, para gravar as cenas exteriores da sua casa. O cruzeiro de Pedrafurada, as lagoas de San Pedro de Muro, Portosín e a praia de Seiras foram outros dos cenários escolhidos por Amenábar e que hoje formam parte de uma rota que percorre os locais de Son que chegaram a Hollywood em 2004.
A rodagem de Mar Adentro foi como uma espécie de lotaria de Natal e salpicou toda a zona que se encontra entre ambas as rias. Por exemplo, em Noia gravaram-se as imagens do mercado abastecedor e em Ribeira filmaram-se as cenas no porto de Insuela e nas dunas de Corrubedo. O monte de A Curota de A Pobra ou o centro urbano de Boiro foram outras das localizações selecionadas na ria de Arousa.
Arousa e A Corunha em Quien a hierro mata (Quem a ferro mata)
Se a praia de As Furnas chegou à fama com a história de Ramón Sampedro, chegou às gerações mais jovens com Fariña, uma série que pôs o foco nas origens do narcotráfico na Galiza. O mesmo tema serve de pano de fundo em Quien a hierro mata. Um filme de Paco Plaza que conta a história de um traficante que, após sair da prisão, se torna amigo de um enfermeiro que cuida dele num lar. Entretanto, os seus filhos metem-se em graves problemas ao encarregarem-se do clã familiar, pedindo ao velho capo que interceda.
A ria de Arousa, berço dos grandes clãs como os Charlines ou o de Sito Miñanco, foi um dos cenários escolhidos para ambientar o filme. O porto de O Carboeiro em A Illa, uma estação de tratamento de marisco de Cambados ou a praia de As Sinas de Vilanova foram algumas das localizações escolhidas. No entanto, embora a história tenha lugar nas Rias Baixas, boa parte das cenas foram gravadas na cidade da Corunha. As cenas exteriores da fábrica de armas, o instituto Calvo Sotelo ou o cemitério de San Amaro são alguns exemplos.
Los lunes al sol (Segundas-feiras ao sol) em Vigo
Se a ria de Arousa ficou associada à imagem do narcotráfico, a de Vigo esteve-o muito tempo à da reconversão industrial. Não foi por acaso que foi escolhida como cenário de Los lunes al sol, um filme que conta o drama dos trabalhadores afetados pelos despedimentos nas fábricas no fim do século XX. Embora o nome da cidade não se chegue a mencionar no filme e a trama pudesse acontecer a qualquer operador de qualquer localidade industrial, as cenas exteriores foram rodadas na área de Vigo.
O primeiro exemplo encontra-se nas primeiras imagens do filme. Javier Bardem e Luis Tosar sentados, ao sol, num barco que liga a cidade de Vigo com Cangas. As Illas Cíes, a skyline, os estaleiros e os bairros de Teis, Coia e O Berbés juntam-se à lista de localizações. Mas, para fazer o percurso completo pelos locais de gravação é também preciso ir até Pontevedra. Mais concretamente, até ao estádio de Pasarón, onde foi rodado o jogo de futebol.
O que arde em Os Ancares
Se as histórias mais dramáticas da Galiza costeira têm a ver com o mar, o narcotráfico ou a crise industrial, as do interior têm como protagonista um elemento natural movido por mãos humanas: o fogo. Os incêndios florestais que devastam as zonas rurais foram o tema escolhido por Oliver Laxe para O que arde, o filme que o catapultou para os Goya. O realizador enquadrou-se num contexto conhecido, a montanha de Lugo, ao contar a história de um pirómano que regressa à sua aldeia após ter saído de prisão.
A maior parte das localizações pertencem a Os Ancares. Mais concretamente, aos municípios de Cervantes, Becerreá e Navia de Suarna, onde Laxe passou parte da sua infância. Além das paisagens de filme, sair à procura dos locais onde a história foi rodada permite penetrar num mundo rural, nos seus ritmos, nas suas atividades económicas e nos seus problemas. De facto, as personagens foram encarnadas por vizinhos da zona. Incluídos os protagonistas, entre os quais se destaca Benedicta Sánchez, que ganhou o Goya à melhor atriz revelação, com 84 anos.
O Caminho de Santiago na mão de Martin Sheen
Como não podia ser de outra forma em pleno Xacobeo, é necessário fazer alusão ao Caminho de Santiago. Quiçá não se trate de uma localização concreta ou abranja tanto que visitá-la requeira uma verdadeira peregrinação pelas rotas do cinema, mas há inúmeros filmes, galegos, espanhóis ou estrangeiros, que têm lugar neste cenário. É o caso de The Way, um filme protagonizado por Martin Sheen e realizado pelo seu filho Emilio Estévez que serviu para projetar o Caminho do outro lado do Atlântico.
O filme conta a história de um homem que decide peregrinar com as cinzas do seu filho, falecido enquanto fazia uma das etapas da rota jacobeia. Quase todas as cenas foram rodadas em diferentes trechos do Caminho Francês, no interior e nos arredores da catedral de Santiago e em Muxía, no final do Caminho.