O que ver na Galiza: cinco visitas para descobrir a história dos naufrágios na Costa da Morte
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Coincidindo com o 20º aniversário do afundamento do Prestige, fazemos um apanhado dos lugares da comarca que conservam marcas das tragédias marítimas que presenciaram
09 dic 2022 . Actualizado a las 14:41 h.Serpent, City of Agra, Captain, Nil, Solway, Great Liverpool... Foram muitos os barcos que naufragaram na Costa da Morte antes do Prestige, o petroleiro que se afundou a 13 de novembro de 2002 à frente das costas galegas e esta semana está há duas décadas sob as águas do Atlântico. É uma das últimas de uma longa lista de tragédias marítimas que marcaram a vida dos habitantes da comarca, onde ainda restam algumas marcas destes acontecimentos. Quer saber mais sobre estes episódios? Estas cinco visitas irão ajudá-lo a descobrir as histórias mais fascinantes dos naufrágios na Costa da Morte.
Em primeiro lugar, é importante frisar que o nome da Costa da Morte não é um acaso. No entanto, a sua origem é curiosa, visto que não se trata de nenhum topónimo galego, mas sim de uma tradução do inglês. O termo Coast of Death surgiu após o afundamento do Serpent no litoral de Camariñas em 1890 e, com a ajuda da imprensa inglesa primeiro e da espanhola depois, espalhou-se rapidamente como a lenda negra à volta da comarca que monopolizava as páginas dos jornais da época.
Lendas à parte, a Costa da Morte caracteriza-se pelos violentos ataques do oceano Atlântico contra as falésias, as fortes correntes e as frequentes tempestades. Um cenário que propiciou que muitos dos erros humanos que podiam ter acabado em incidentes acabassem em verdadeiras tragédias. No entanto, tudo tem a sua contrapartida e, no sentido turístico, a natureza do mar nesta zona faz dela um dos litorais mais belos da Galiza.
Cemitério dos Ingleses, em Camariñas
O afundamento do torpedeiro britânico Serpent, em 1890, foi uma das maiores tragédias marítimas vividas na Costa da Morte. Teve lugar perto da Ponta do Boi de Camariñas e saldou-se com a morte de 172 dos seus 175 tripulantes. O mar devolveu os corpos à terra durante vários dias e, para albergá-los e recordar os falecidos, construiu-se lá uma necrópole. O Cemitério dos Ingleses é o único do continente dedicado aos mortos de um único barco e faz parte da Rota Europeia dos Cemitérios Singulares.
A necrópole é um dos pontos destacados da «Ruta dos Naufraxios», que percorre a costa de Camariñas, umas das que mais afundamentos presenciou, sobretudo na zona entre Camelle e Arou. De facto, o município tem um Centro de Interpretação dos Naufrágios da Costa da Morte no interior do farol de cabo Vilán. Sabias que foi o primeiro farol elétrico de Espanha? Embora tenha existido uma construção anterior, decidiu-se dotá-lo desta tecnologia após a tragédia do Serpent.
Caminho dos Faróis, de Malpica a Fisterra
Na realidade, uma das formas mais simples e entretidas de conhecer a Costa da Morte é fazer um percurso dos seus faróis. Existe uma rota chamada «O Camiño dos Faros» que abrange o litoral de Malpica até Fisterra. São quatro etapas se for feito a pé, mas é possível optar por fazer apenas as etapas de interesse ou evitar a caminhada indo aos sítios mais destacados de carro. Alguns exemplos são a praia de O Coído (Muxía), quilómetro zero da catástrofe do Prestige (onde chegaram esses primeiros «fiozinhos de plasticina»), a ponta do Rostro, onde tiveram lugar as explosões após o naufrágio do Casón (Fisterra), o Museu de Man em Camelle ou o farol de Laxe, onde um monumento recorda as mulheres que esperavam a chegada dos homens do mar.
Além disso, fazer este percurso permite desfrutar da natureza selvagem deste trecho da costa galega. Ver o oceano a bater contra as falésias, desfrutar de um pôr do sol no "fim do mundo", dar um passeio pelas praias mais espaciais da Galiza como a de Os Cristais de Laxe, sentir o vento na cara enquanto se caminha, admirar a partir dos seus miradouros uma paisagem impressionante, descobrir o património histórico da comarca nos seus castros ou petróglifos, olhar para as estrelas num dos melhores destinos galegos para a observação do céu... Precisa de mais razões?
Mergulho na ria de Cee e Corcubión
Muitos dos barcos que se afundaram na Costa da Morte ainda continuam debaixo das suas águas. Algumas empresas de mergulho oferecem a possibilidade de ver estos destroços de perto, mas os mergulhadores que tiverem o material e a experiência necessários podem fazê-lo por sua conta. A ria de Cee e Corcubión, situada a sul do cabo Fisterra, é ideal para esta atividade, visto que o mar está mais calmado e apresenta numerosos destroços (restos de naufrágios) submersos a pouca profundidade.
Alguns exemplos são a nau Santa María de la Anunciada ou o galeão San Gerónimo, que formavam parte da Armada de 1596 (a segunda armada invencível), o encouraçado britânico Captain, afundado em 1870, ou a corveta francesa Bayonnaise, em 1803. Mergulhar nas profundidades da ria para ver os destroços é uma das formas mais diretas e emocionantes de descobrir a história marítima da Costa da Morte e o património que ainda habita nas suas águas.
Ponta Roncudo, em Corme
Embora boa parte dos naufrágios que tiveram lugar na Costa da Morte tenham sido devidos a erros humanos, o certo é que o mar, as correntes de ar e a própria orografia do litoral, repleta de cabos, complicaram em muitos casos as possibilidades de os emendar a tempo ou evitar vítimas. Uma das provas da força do mar é que nas suas rochas apanham-se, conforme diz a sabedoria popular, os melhores percebes da Galiza, cujo sabor se deve ao constante bater das ondas.
Ponta Roncudo, em Corme, é a meca dos "percebeiros" que cada ano põem a vida em perigo para extrair estas delícias das rochas. Visitar a zona e ver o seu duro trabalho permite ter uma ideia de como o mar e as correntes foram capazes de arrastar tantos barcos até ao fundo marinho. De facto, as falésias deste cabo estão cheias de cruzes que recordam os percebeiros que lá perderam a vida.
Museu do Mar de Laxe
Um dos passos imprescindíveis para aprender sobre os naufrágios na zona e a natureza das suas águas é deixar-se guiar pelos especialistas. Nesse sentido, existem vários espaços culturais onde são expostas peças dos barcos afundados, fotos das tragédias marítimas ou as ferramentas de trabalho dos pescadores. Um deles é o Museu do Mar de Laxe. Situado num edifício emblemático da municipalidade, apresenta amostras do património antropológico, histórico e visual de toda a Costa da Morte desde o fim do século XIX. A joia da coroa é o arquivo fotográfico Vidal, que narra a história dos seus habitantes. Esses que há vinte anos se lançaram à costa, acompanhados por centenas de voluntários e ao grito de «nunca mais», para limpar a maré negra que deixou a catástrofe do Prestige.