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Rufina, peregrina aos 95 anos: «Tomo sempre um fino ao chegar ao Obradoiro. O único que tomo no Caminho»

C. M. / TRANSLATION: MARCOS RANDULFE REDACCIÓN

VEN A GALICIA

Rufina, de 95 años, el mes pasado durante el Camino de Santiago.
Rufina, de 95 años, el mes pasado durante el Camino de Santiago.

Aos 85 anos, fez o Caminho de Santiago pela primeira vez e, no mês passado, uma década depois, obteve a sua quinta compostela

30 nov 2023 . Actualizado a las 10:43 h.

Para quem duvidar dos 95 anos de Rufina Rodríguez, é o que, de facto, diz a sua certidão de nascimento. Mas a sua eloquência na fala, a sua agilidade com o WhatsApp e os 114 quilómetros que marcou como objetivo da caminhada de Tui até Santiago em quatro dias, convidam a pensar outra coisa.

A sua é uma dessas histórias que os números escondem. Uma das que se camuflam entre as 68.877 compostelas que foram entregues no mês passado, quando esta porto-riquenha concluiu o seu quinto Caminho de Santiago. Fê-lo em grupo, acompanhada pela filha e a um ritmo que nada tem de invejar ao dos que não viveram nem metade dos anos que ela tem. 

Entre as suas motivações, um aniversário e um ou outro reencontro: «Queria voltar a fazer uma visita a algumas das pessoas que conheci no Caminho. No primeiro, conheci uma casal que tinha um bar em Pontevedra e festejámos lá os meus 85 anos. Ia com a esperança de os cumprimentar, mas não foi possível». E o dado é correto: a Rufina fez o seu começo no Caminho de Santiago há uma década, quando tinha 85 anos. E nestes dez anos, já o fez quatro outras vezes.  

Qual é o segredo para enfrentar desafios desta forma com quase um século de idade? Para a Rufina, a chave está no exercício e na alimentação: «É preciso gostar de caminhar e praticar duas ou três vezes por semana, mesmo que seja em distâncias curtas. A alimentação também é importante, reduzir o sal e o açúcar. Eu como um pouco de tudo». Mas isso não é a única coisa que nos diz a voz da experiência: «A clave é ter entusiasmo e vontade de caminhar, sendo isso algo que nasce em nós e é progressivo. Começa-se com 20 minutos e o corpo vai pedindo 30 e vai respondendo pouco a pouco».

E, embora não o reconheça quase até ao fim, também tem uma ou outra recompensa: «Eu gosto de um bom fino. Embora só tome um, como prémio, ao acabar. O corpo é que me o pede, como caminhar». «Em Porto Rico, chamamos a cerveja medalha, então premiamo-nos com uma medalha!», brinca. Ao chegar ao Obradoiro, para além do «fininho», o ritual é sempre o mesmo: ver a catedral, o botafumeiro, foto de recordação, e o que for preciso. «Este ano havia um grupo de andaluzes muito simpáticos, até flamenco me fizeram dançar!», conta a Rufina.

E essa única cerveja é umas das coisas de que mais desfruta do Caminho, juntamente com a natureza e os «manjares» —as vieiras e a tortilha, entre os seus favoritos—. Embora aquilo de que mais gosto transcenda o material: «O melhor são as pessoas todas que conheces e aquilo que se partilha. Fiz aqui amigos que já são família», diz esta veterana que não para de repetir que «de tudo, minha senhora, se aprende alguma coisa». «Viajar de Porto Rico até à Galiza a esta idade é uma verdadeira aprendizagem», afirma.

Tem a firma convicção de que, se nada o impedir, este quinto Caminho não será o último —porque «é preciso continuar a andar», «não podemos enferrujar»—, embora, para os próximos, já tenha novas acompanhantes e futuras sucessoras: «Esta última vez recebi uma visita que não esperava. Vieram o meu neto, a mulher e as filhas. As minhas duas bisnetas, que têm 8 e 11 anos, caminharam essa etapa comigo, 26 quilómetros e, sobretudo a mais pequena, apaixonou-se pelo Caminho e já o quer fazer inteiro. Herdou isso de mim!», conclui enquanto, como no resto da conversa, a emoção se misture com os risos.